Todo mundo cabe no mundo
27 de Março de 2019 às 15:47
Originalmente publicado no Blog da Brinque

"É do humano – de todos os humanos, não só de alguns – que a literatura trata"
Os livros falam, de muitas maneiras, das vidas que vivemos, o que significa que há uma imensidão de histórias a serem contadas. Nessas muitas histórias, há uma infinidade de personagens e, neles, sonhos, angústias, medos, alegrias e desejos que são partilhados a cada escrita e leitura. Em narrativas mais realistas ou convites inusitados, os livros estão sempre falando de quem somos e dos modos que encontramos para estar no mundo. As palavras e as imagens que juntas contam histórias são, sempre, uma convocação para estar no lugar do outro, experimentar outra vida ou simplesmente para ver as coisas por ângulos estranhos à primeira vista. Assim, os livros precisam nos caber, como somos e desejamos ser. Embora ainda haja equívocos ou insistência em concepções disciplinares de leitura para as crianças, nos últimos anos a produção editorial brasileira para este público tem conseguido abarcar considerável diversidade de temas que, até bem pouco tempo atrás, pareciam impossíveis. Mais que tratar de questões consideradas polêmicas - a morte, a violência, a homoafetividade, dentre outros -, escritores, ilustradores e editores, juntos, criam textos, ilustrações e projetos que contemplam a vida como ela é – ou poderia ser."É preciso lembrar, sempre, que o que consideramos comum e incomum é uma construção social"
Explico: diferente de livros produzidos para falar disso ou daquilo, para “trabalhar com” determinados temas, muitas vezes usando tom moralizante, os bons livros - que não encerram as infâncias em um lugar previamente definido como infantil - tratam da vida, essa de todo mundo, em que há encontros e desencontros, o comum e o incomum. É preciso lembrar, sempre, que o que consideramos comum e incomum é uma construção social, marcada por nossas condições de existência, e não por natureza. E que a literatura pode contribuir para desconstruir olhares normatizadores, que, conscientemente ou não, estabelecem lugares prévios para as pessoas.
Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.