"Ler e saber": os livros informativos para crianças trabalhados em sala de aula
6 de Fevereiro de 2020 às 19:12
Originalmente publicado no Blog da Brinque
resumo Por que é preciso ler livros informativos com as crianças? Neste texto, falamos de competências leitoras, organização da informação, BNCC, leitura de não ficção em sala de aula e mostramos exemplos de boas obras desse gênero
Por que é preciso ler livros informativos com as crianças? E por que precisamos de leitores com novas competências? Essas são duas das perguntas que a professora e pesquisadora espanhola Ana Garralón faz -- e responde -- logo no começo de seu livro Ler e saber - Os livros informativos para crianças.
Novas competências leitoras
Especialista no assunto, Garralón defende que os informativos podem ajudar as crianças a desenvolverem novas competências leitoras, em meio a um mundo cada vez mais conectado, tecnológico, com uma profusão de informação nunca antes experimentada. "Uma quantidade imensa de informações surge e desaparece e de forma desorganizada e incompleta. Os livros podem ajudar as crianças a ordenar esse mundo de informações dispersas", diz Garralón logo no primeiro capítulo do livro. Para a pesquisadora, o livro informativo também mostra à criança que uma mesma pergunta pode ter várias respostas. Se a ideia é ampliar também a leitura para outras linguagens, ampliando as competências leitoras e a diversidade de respostas e formas de se expressar, então livros informativos podem ajudar.Gêneros digitais
Essas novas competências leitoras também aparecem com destaque na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017 e que está entrando em vigor. Em Português, por exemplo, a BNCC prevê a leitura e o trabalho em sala de aula de múltiplos gêneros textuais. Pela primeira vez, amplia esses gêneros para os digitais, abarcando de e-mail à produção de posts em mídias sociais e mesmo a leitura de gifs. Garralón mostra que os livros informativos usam muitos recursos de ilustração, fotografia, infográficos, gráficos, diagramas para complementar e ajudar a explicar os temas -- por vezes complexos -- apresentados.Socialização e autonomia
Para a autora, ampliar leituras é também socializar, pois, com o conhecimento, vêm os argumentos, os assuntos e o desejo de compartilhar as informações com os colegas. Além disso, o livro informativo gera curiosidade e permite uma aprendizagem mais autônoma, já que não está organizado por disciplinas ou por temas hierárquicos. Por vezes, uma mesma obra entrelaça diversas áreas do conhecimento. E permite ao pequeno leitor que continue a leitura de acordo com seu entendimento, até saltando e depois retomando partes específicas.Lendo o livro sobre o livro
A obra de Garralón não apenas defende a leitura do livros informativos com crianças, mas também conduz o leitor na exploração desse tipo de obra.
Ideias para trabalhar os informativos com as crianças
Destacando o papel dos mediadores, Garralón termina o livro elencando algumas ideias para se incentivar que se leia esse tipo de obra, considerando o antes, o durante e o depois da leitura, como por exemplo:- promover rodas de leitura;
- ativar os conhecimentos prévios das crianças sobre aquele tema;
- incluir esses livros na "hora da história";
- ser ativos durante a leitura, anotando, perguntando, chamando a atenção para detalhes ou pontos importantes;
- conversar depois da leitura;
- pedir que as crianças façam fichas, avaliando e resenhando os livros, recomendando ou não sua leitura por colegas.
Informação com poesia
A obra e Garralón, fartamente documentada e baseada numa pesquisa de fôlego -- são mais de 10 páginas só de bibliografia -- traz também insights importante de diversos pensadores/as e teóricos/as. E não abre mão de lirismo e poesia na hora de escolher as citações e desses autores, mostrando que a informação nem sempre precisa ser "dura". Como diz o filósofo José Antonio Marina, citado por Garralón na página 21 de Ler e saber: ---A realidade bruta não é habitável: é preciso dar-lhe significados, segmentá-la, dividi-la em habitações e construir corredores e pontes para ir de um aposento a outro
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José Antonio Marina
Alguns livros informativos
Lançado no ano passado, Era uma vez 20 é um bom exemplo. Ele traz vinte mini biografias de dez mulheres e dez homens que marcaram o Brasil.
Era uma vez 20
Entre os biografados estão Antonieta de Barros, Bertha Lutz, Nise da Silveira, Maria Quitéria, Grande Otelo, Zumbi dos Palmares, Pixinguinha e Monteiro Lobato.
Os textos e a pesquisa são de Luciana Sandroni (da série Ludi), que conversou com a gente sobre a obra no ano passado. O projeto gráfico -- importantíssimo para livros informativos, como lembra Garralón -- é da premiada Raquel Matsushita.
E as ilustrações estão assinadas por Natalia Calamari e Guilherme Karsten, ilustrador premiado internacionalmente -- dois prêmios em 2019.
Brinque-Book Saber
Nesta coleção, diversos títulos, a maioria para crianças a partir de 4 anos, contam sobre vulcões, estrelas e planetas, o nosso corpo, as grandes invenções...
Com conteúdos trabalhados de forma divertida para facilitar a aprendizagem dos pequenos curiosos, algumas obras têm também abas internas com um grande mapa explicativo dos temas abordados em cada livro.
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Nós queremos muito conhecer a sua história em sala de aula: conte para a gente se você já trabalhou algum livro informativo com seus alunos e como foi! Adoraremos saber!Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.