Uma viagem espacial pelo mundo ilustrado

13/07/2017

 

“Planeta”, palavra originária do grego, significa “errante”. Errância, um vagar pelo caminho, é termo que bem define o processo criativo de um artista, que pesquisa, testa, experimenta. Erra muito antes de acertar. Agora, alguns desses seres errantes desembarcaram na exposição Linhas de história: o livro ilustrado em sete autores, que acaba de ser inaugurada no Sesc Santo André, Grande ABC, a menos de uma hora de São Paulo.

Com curadoria de Odilon Moraes, Stela Barbieri e Fernando Vilela, a mostra reúne artistas de diferentes gerações, incluindo um estrangeiro. Lá o visitante viaja pela galáxia do livro ilustrado, passando por obras de destaque no mercado editorial, referências artísticas, técnicas e materiais diversos de grandes nomes como Eva Furnari, Renato Moriconi, Nelson Cruz, Roger Mello, Andrés Sandoval, Angela Lago e Javier Zabala, este último espanhol. Cada autor brilha em um planeta (ou plataforma), com uma cenografia singular criada por Duda Arruk.

 

 

“Esta é a exposição mais bonita que eu já vi”, declarou Javier Zabala, um dos sete homenageados da exposição. E não é por acaso: a arquitetura, montada no amplo espaço do Sesc Santo André, chama a atenção. Construções verticais aproveitam o altíssimo pé direito do espaço, e uma rampa guia à morada das ilustrações. Na chegada, binóculos são um convite para que os visitantes já espiem os astros em ação.

 

 

Quem desembarca pode escolher começar a viagem por qualquer um dos planetas. Renato Moriconi, por exemplo, tem seu planeta circular, em referência ao carrossel do livro Bárbaro. Ali, podemos ver cada desenho desse premiado trabalho até chegar ao Bocejo, aos retratos em tinta a óleo que compõem Caras animalescas ou ao humor presente em livros independentes, nem todos direcionados às crianças.

Integrante da geração mais jovem, ele se lembra com orgulho da obra que o fez desejar percorrer o caminho dos livros: Cantigamente, escrito por Leo Cunha, com ilustrações de Marilda Castanha e Nelson Cruz, outro homenageado da exposição. Ao ler o livro, percebeu a total independência proporcionada pela literatura infantil. “É o lugar da abertura máxima da liberdade autoral, da voz da imagem. É onde a gente decide a arquitetura, controla o tempo, o timing específico. O chamado livro infantil é o espaço da liberdade e também é o espaço da criança, da descoberta, de não ter preconceito com formas”, conta Moriconi.

 

Bem no centro da exposição, orbita o planeta de Roger Mello, numa estrutura que lembra jardins suspensos. Na plataforma, o visitante confere as diferentes texturas de seus processos, as cores vibrantes de Carvoeirinhos destacadas entre o mais escuro dos pretos, os detalhes das plantas que avista em suas viagens pelo mundo.

É um artista observador, conta Stela Barbieri, durante a conversa de abertura da exposição, numa roda amistosa com todos os artistas. “Andar com o Roger é muito divertido. Eu me lembro do Dalai Lama, porque dizem que ele também é assim: olha para bem longe e depois para pertinho”, diz a curadora. Ao que Roger responde:  “Sou observador 25 horas por dia, mas não gosto de desenhar olhando. Gosto de esquecer, atrapalhar tudo na cabeça, e então desenhar”.

 

 

Andrés Sandoval, que deixou o evento mais cedo para realizar o lançamento de seu novo livro Dobras, recentemente publicado pela Companhia das Letrinhas, falou um pouco sobre as suas experimentação artística, em especial no seu livro Desenho livre, lançado em 2016. “Tem a ver com a simplificação da linguagem, é feito só com lápis e com papel branco. Na verdade, é uma investigação sobre a linha, sobre as cores. Há um lado da cor como substância, como coisa física, material, e aí outras investigações, do desenho como uma ação corporal.”

É preciso um dia todo pra vagar por todos os planetas, conhecer as investigações de Angela Lago, com os detalhes de desenhos que mais parecem bordados e os jogos de sombra e luz, o revelado e o obscuro. De lá, seguir para o planeta de Nelson Cruz e vasculhar suas gavetas que guardam o minucioso processo investigativo de um artista-pesquisador. No planeta do espanhol Zabala, descobrimos seus cadernos de criação – e, apesar de estarem protegidos em vitrines, o desejo é folheá-los.

 

 

Como viajar de um planeta a outro? Vale percorrer as “pontes”, mesas que criam conexões entre os artistas, com referências que indicam suas influências e depoimentos que mostram suas relações na mesma galáxia – o livro ilustrado. É o diálogo entre os criadores.

 

 

Na exposição, podemos ainda mergulhar no ateliê de cada um dos artistas em um documentário produzido especialmente para a ocasião – e que está também disponível on-line, como pode conferir acima. Depois, vale ainda fazer uma última viagem: na sala de leitura, aventurando-se em cada universo que é um livro. A exposição estará disponível aos amantes do livro ilustrado, pequenos ou crescidos, até o dia 26 de novembro.

Viagem imperdível!

 

 

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Anote na agenda

O que: Linhas de histórias: o livro ilustrado em sete autores

Onde: Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Vila Guiomar, Santo André)

Quando: até 26/11

Quanto: grátis

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