O território da literatura infantil

29/07/2018

 

Por Gabi Tonelli

 

Sábado foi mais um dia de Flip e de reunir crianças e adultos para conversar sobre literatura infantil com muita animação — e por que não com um pouco de dança também? Durante a sexta-feira, os adultos participaram de conversas com autores e profissionais do livro, já sábado foi marcado não apenas pela presença dos autores, mas também de admiradores do livro infantil e influenciadores digitais que se dedicam à divulgação da literatura para crianças.

Na roda de conversa "Curadoria: uma conversa olho no olho", Padmini Prem, Isabella Zappa, Malu Carvalho e Daisy Carias, criadoras dos blogs Mergulho Literário, Bamboleio, Na Corda Bamba e A Cigarra e A Formiga, conversaram com Renata Nakano, uma das fundadoras do Clube Quindim, sobre como indicar livros infantis em meio a uma gama cada vez maior de opções de entretenimento para a criança. E para quem indicar os livros, quando muitas vezes não são as próprias crianças que os escolhem?

As participantes defenderam durante a conversa que a literatura não precisa ser designada para a escola, embora usualmente pensemos no formador de leitores dentro do ambiente escolar. A formação literária e o incentivo à leitura são também uma questão familiar, público a que os blogs se dedicam — ainda que a maioria dos leitores seja de professores ou pessoas que já tem familiaridade com a literatura infantil. Como disse Lêda Fonseca, a mediadora da conversa, "o afeto é o maior formador de leitor", ou seja, associar a leitura a um momento de carinho e cuidado muitas vezes é o que irá garantir que a criança continue interessada em livros. E, segundo elas, nesse contexto, a intenção da leitura pode importar mais do que o conteúdo em si, especialmente no início da formação literária.

Outra questão debatida foi o fato de que o livro infantil muitas vezes é visto apenas como um objeto utilitário, que precisa necessariamente ter a função de educar, ensinar ou moralizar de alguma maneira. Mas, como definiu a ilustradora e artista plástica tcheca Kv?ta Pacovská, citada durante a conversa, "o livro é a primeira galeria de arte a qual a criança tem acesso", de forma que a literatura precisa ser atrativa e cativante  não apenas um instrumento de ensino.

E se o afeto é uma das chaves para a formação do leitor, ele também contribui para que a gente consiga resistir a momentos difíceis. Foi falando sobre isso que a autora Marie Ange Bordas iniciou a roda de conversa "Adentrar territórios", mediada por Volnei Canônica, um dos fundadores do Clube Quindim. Marie Ange desenvolveu diversos projetos literários em comunidades quilombolas, indígenas e de refugiados ao redor de todo o mundo, priorizando a construção de história, conteúdo e mensagens através das imagens, o que ela considera ser a "alfabetização visual" do indivíduo leitor.

 

 

As escolas muitas vezes afastam os alunos da linguagem visual em prol da linguagem escrita e, como disse a autora, "a observação virou algo em desuso". As crianças passaram a desenhar a partir de um repertório já estabelecido, sem necessariamente retratar o que se encontra ao seu redor, no território em que vivem. Durante suas viagens, porém, Marie Ange pôde perceber que em comunidades menores e mais afastadas dos grandes centros urbanos a relação das crianças com o lugar onde moravam fazia com que elas estabelecessem uma conexão cultural com o território em que viviam, e a observação do local era perceptível nos trabalhos visuais elaborados por elas, como no caso do livro Histórias da Cazumbinha (Companhia das Letrinhas, 2010). A percepção "do que era deles" era mais clara e presente.

Como foi tão mencionado nessa conversa, estar em outros lugares, em territórios diferentes, transforma o que somos. E esse é um pouco o papel da Flip e da Flipinha em relação a cada um de nós: mudar percepções, agregar novos conhecimentos e proporcionar reflexões.

Foi assim também na oficina “Meu corpo, meu território”, ministrada pela autora e arte-educadora Kiusam de Oliveira. Na Central Flipinha, ela propôs que todos - adultos e crianças - se reunissem em uma grande dança em celebração ao corpo “que está em construção, um corpo totalmente poético”. Assim, as histórias de seu livro Omo obá: Histórias de princesas (editora Mazza) mesclaram-se ao ritmo do coco em uma divertida festa.

 
Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog