Crianças escrevem cartas para Malala

29/11/2016

A caixa de correspondência de Adriana Carranca tem estado cheia de mensagens, com cartas, desenhos, fotos e até pedidos de recomendação de livros para mudar o mundo. Os remetentes são crianças de vários cantos do Brasil, que escrevem para a autora depois de lerem Malala, a menina que queria ir para a escola.  

Nas cartinhas, as crianças recontam a saga de Malala em história em quadrinhos, mandam fotos segurando orgulhosamente a obra e agradecem a autora por ter escrito sobre a menina paquistanesa, baleada na cabeça pelo Talibã em 2012 por querer ir à escola. “São muitas mensagens. Adorei um desenho em que apareço com a Malala”, conta.

“Querida Adriana Carranca,

Eu estou amando o seu livro Malala, a menina que queria ir para a escola. Admiro muito o seu trabalho. Quando minha professora Mônica me falou que dia 16/5 teria o lançamento do seu livro, eu fiquei muito interessada. Vou guardar este livro com muito carinho e amor.”

Viviane

Vencedor de dois prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), nas categorias de informativo e revelação, esse é o primeiro livro-reportagem infantil já publicado no país e abriu as portas para esse novo gênero literário entre as publicações dirigidas a crianças e jovens. Sucesso de crítica e de público, já vendeu mais de 40 mil exemplares.

A autora é jornalista, experiente em coberturas internacionais. Com a atuação como repórter em localidades de conflitos bélicos, ela viajou em outubro de 2012 para o Vale do Swat, no Paquistão, onde vivia Malala. Era a oportunidade de percorrer a região e conversar com vários personagens em busca de detalhes da história dessa menina, ganhadora do Nobel da Paz em 2014, símbolo universal contra a opressão feminina.

Localizado na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, o Vale do Swat é uma terra de atmosfera mágica, onde já reinaram príncipes, com castelos cercados pela paisagem das montanhas. A descrição do vale chega a soar como cenário de conto de fadas, com o (nada pequeno) detalhe de que tudo narrado aconteceu de verdade.

A história contada no livro vestiu essa fantasia encantada para narrar a vida de uma verdadeira princesa dos dias de hoje, Malala Yousafzai. “Fiz paralelos com histórias infantis para atrair a atenção das crianças. Malala é uma personagem que atualiza os contos de fada, uma heroína de nossos tempos, que vivia numa terra de guerreiros”, explica.

Segundo a jornalista, assim como na história de Malala, há nos contos de fadas o componente da violência. Branca de Neve foi envenenada com uma maçã, Rapunzel esteve presa no topo de uma torre, Cinderela sofreu maus-tratos de sua madrasta. Mas, como na saga da heroína paquistanesa, nobreza e bondade se sobressaem (e vencem) no final.

Foi justamente por acreditar que a esperança de mudança está nas crianças que a autora decidiu escrever o livro dirigido a esse público. “A criança está muito mais aberta a esse tipo de estímulo. Falamos pouco sobre o protagonismo infantil e ainda olhamos para criança como uma pessoa que não tem voz. Malala provou que crianças têm voz, sim. Então eu gostaria de inspirar as crianças a ter esse protagonismo e ser precursora dessas mudanças que gostaríamos de ver no mundo.”

A mensagem que a jornalista faz questão de reforçar é a de que Malala poderia ser qualquer criança, inclusive uma brasileira, e que meninos e meninas podem mudar o mundo. “A própria Malala diz: ‘Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo’. Não precisamos de recursos, mas de conhecimento, que é instrumento de igualdade, e a vontade de mudar parte dele. Ao presenciar uma injustiça, se você tem conhecimento, você vai se sentir motivado a reagir”, complementa.

Ao trazer uma história que acontece num país distante, com vários elementos sobre intolerâncias religiosa e étnica, a jornalista almeja derrubar as barreiras entre povos. “Somos muito mais iguais do que diferentes, tudo o que nos diferencia é superficial: os costumes, a tradição, os hábitos. O que é essencial, que é a natureza humana, é igual para todos”, diz a autora, que contou com a parceria da ilustradora Bruna Assis Brasil para traduzir o encontro entre realidade e ficção na premiada obra.

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