Cresce programação de literatura infantil na Flip

31/07/2018

 

Por Gabi Tonelli e Luísa Cortés

Domingo foi dia de despedida de Paraty, final da 16a Flip, marcada por uma programação mais ampla sobre literatura infantil espalhada pela praça da Matriz, na Central Flipinha, na Casa MAR, na biblioteca do Cembra, e nas muitas casas parceiras da festa literária.

Já pela manhã, a Casa Libre e Nuvem de Livros ofereceu um slam de ilustração, atividade que é novidade no Brasil. Na competição, ilustradores divididos em dois times (Caiçara e Drummond, nomes escolhidos pelo público presente) tiveram uma parede inteira coberta com papel para pintarem livremente, com tinta e canetinha. A cada vez que alguém da plateia gritava o nome de uma equipe, os artistas daquele grupo se revezavam e entravam em ação, um interagindo com o desenho do outro.

 

 

Foi assim que uma parede colorida, repleta de personagens um tanto inusitados, foi construída, ainda com a ajuda das crianças que estavam presentes, que logo mergulharam mãos e pés nos potes de tinta. A história ilustrada foi narrada por Volnei Canônica, diretor do Centro de Leitura Quindim, e a brincadeira teve a participação de artistas como Patrícia Auerbach, Lúcia Hiratsuka, Raquel Matsushita e Luciana Grether.

A algumas ruas de pedra dali, na Central Flipinha, a escritora e professora Débora Araújo Seabra de Moura apresentou seu livro Débora conta histórias e narrou algumas de suas fábulas no bate-papo Geografia da inclusão. Aproveitou para explicar às crianças e aos adultos presentes a importância da inclusão e do respeito ao próximo ao responder às perguntas de Maia Costa Pigot, mediadora de leitura da Biblioteca Casa Azul.

Ela também contou os bastidores das suas “fábulas inclusivas”. O papagaio mudo, por exemplo, ela recebeu logo após a morte da sua avó, e ele não falava devido ao luto. Com o passar do tempo, foi se recuperando e até chegou a latir, para a alegria de sua cachorrinha, a Magali. Já o passarinho machucado veio de um acontecimento de sua adolescência, quando passeava pelo jardim de casa e avistou o bichinho. Acolheu a ave e soltou-a depois de recuperada da lesão na asa. “Nunca esqueci esse passarinho. Ficava pensando se ele voava mais devagar do que outros. Acho a história dele parecida com a minha. Eu voo mais devagar, mas consigo chegar lá."

A galinha surda foi inspirada em uma aluna sua. Ela ficava isolada das outras crianças, mas aos cuidados de Débora, logo foi incluída à turma. Já o pato que não queria namorar a pata foi baseado em um casal homossexual amigo da família. “Sei que, em muitas ocasiões, eles sofrem preconceito. O que vale é ter liberdade e namorar com quem quiser. Isso é inclusão.”

 

 

Além disso, a mesa contou com a fala de Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, que apresentou o Mudando a Narrativa, projeto que incentiva a leitura inclusiva com objetos que garantam a todos o acesso às histórias, que tem uma metodologia de narração de histórias com contadores com e sem deficiência.

 

Balanço da festa

A Flip de 2018 foi mais aberta para as literaturas infantil e juvenil, tanto para as crianças e os adolescentes, quanto para os adultos interessados em conversar sobre esses temas. Não só a própria Flipinha, o circuito educativo da Flip dedicado a esses assuntos, estava com uma programação intensa, repleta de momentos dedicados à infância e à literatura, mas também uma série de casas que integraram a chamada "programação paralela" da feira. Tinham opções para todos os gostos!

Todos os dias, adultos e crianças se reuniam na Central Flipinha, próxima ao já tradicional projeto dos Pés de Livros, árvores com livros infantis pendurados em seus galhos. Autores conversavam e interagiam com o público sempre às 13h30, na tenda mais colorida de toda a Flip. Mas se engana quem pensa que a circulação da tenda ficava restrita a esse horário. Com banquinhos e livros armazenados em pequenas estantes, de fácil acesso para as crianças, a Central Flipinha ficava agitada o dia todo, com um público sempre pronto para se divertir com uma leitura nova ou já muito conhecida e adorada.

Para quem queria fugir do sol e do calor de Paraty, o cinema restaurado na Praça da Matriz, bem em frente à tenda da Central da Flipinha, era uma opção. Se dividindo entre programação infantil, jovem ou adulta, toda manhã exibia em sua tela animações do festival Anima Mundi dedicadas às crianças.

Durante as tardes, as conversas que integravam a programação da Flipinha eram mais voltadas ao público adulto — embora as crianças também estivessem na plateia. Professores, educadores, escritores e ilustradores, pais e outros interessados em livros e conteúdos relacionados à infância acompanharam bate-papos enriquecedores entre autores e plateia.

A Casa MAR, espaço em que esses encontros aconteceram, ficava dentro da Biblioteca do Cembra, escola próxima ao centro histórico de Paraty, envolvida na programação da Flip. Na mesma casa também aconteceram outros encontros com autores ligados a programações paralelas. Um verdadeira espaço para pensar, repensar e conhecer mais sobre as literaturas infantil e juvenil.

Quem buscava oficinas mais práticas ficava satisfeito com a programação da Casa Fedrigoni, também paralela à programação oficial. Oficinas de livro pop-up, colagem, tipografia, serigrafia e outras técnicas rechearam as manhãs e tardes da casa. Além disso, a casa recebeu um  ateliê para crianças focada na obra da autora homenageada Hilda Hilst.

Outras duas casas paralelas que misturaram em suas programações conteúdos para crianças e adultos foram a Centro Cultural Sesc e a Casa Libre & Nuvem de Livros. Com conversas sobre literaturas infantil e juvenil voltadas para o público adulto e atividades e narrações de histórias para os pequenos leitores, os espaços estavam sempre disputados.

Dessa forma nos despedimos de uma Flipinha e de uma Flip que criaram um território especial de maior diversidade para a literatura, e os livros infantis e juvenis não foram esquecidos. Que as boas conversas, reflexões e narrativas desses cinco dias façam todos os participantes alimentarem o afeto pelos livros, pela literatura, pela poesia, tão festejados nesse intenso festival.

Até a Flip de 2019!

 

 

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