As emoções com a chegada de um novo irmão

20/01/2023

Pequena, pequenininha, minúscula. Em 2019, Fran Matsumoto anotou essas três palavras em um bloquinho. “Sabia que essas palavras tinham a ver com a minha irmã, mas não consegui desenvolver a história naquele momento”, conta, em entrevista ao Blog da Letrinhas. Foi só no ano seguinte, quando desenvolveu um projeto para um curso que ela resgatou a anotação e a história de Minúscula nasceu.

Mas bem antes nasceu a irmã de Fran. Quando a autora era criança, vivia pedindo aos pais por uma irmãzinha para brincar com ela. “Ela só veio quando eu já tinha 8 anos, então, naquele momento, eu não podia brincar com ela da forma como eu gostaria e como eu esperava”, explica.

Ganhar um irmão envolve muitas emoções, e exige dos pais uma série de negociações e respostas para questões novas, como a frustração por receber um irmão que ainda vai demorar muito para brincar, o choque por perceber que não era nada daquilo que a criança mais velha tinha imaginado, a tristeza e o ciúmes por ter de compartilhar os pais. A boa notícia é que o amor sempre aparece depois desse período de adaptação! E que há alguns recursos - como livros, filmes e atitudes dos pais - que podem ajudar a criança a passar por esse turbilhão com mais serenidade.

 Capa do livro infantil Minúscula, de Fran Matsumoto, pela Brinque-Book

O livro Minúscula, publicado pela Brinque-Book, conta exatamente a história de uma irmã que esperava a chegada da outra, já pensando no tanto que elas poderiam brincar juntas e em todas as aventuras que tinham pela frente. Mas um “detalhe” atrapalhou tudo. Quando a irmã finalmente chegou, ela era muito pequena. Era minúscula. Como é que ela ia conseguir brincar desse jeito? Ela não falava, não corria, não conseguia nem segurar um lápis. Não dava para trocar por uma mais crescidinha, não? 

Mais tarde, assim como a personagem do livro, Fran entendeu que, às vezes, a gente precisa mudar nossa forma de olhar, para enxergar direito o que importa de verdade. Mas isso leva um certo tempo - e o tempo é um conceito um pouco complicado de entender na infância. 

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A frustração com o irmão que acaba de chegar

Essa sensação não é uma exclusividade da autora. De acordo com a psicóloga Cynthia Wood, por mais que o irmão mais velho tenha implorado aos pais por um irmãozinho e por mais que os adultos tenham explicado que viria um bebê, as crianças tendem a imaginar que esse irmão vai chegar pronto para brincar do tamanho deles. “Então, quando os pais chegam da maternidade com aquele recém-nascido, existe uma frustração”, explica ela. Outra situação frequente, segundo a especialista, é a criança pensar que esse bebê vai ser um brinquedo e vai interagir com eles, mas da maneira como eles planejam a brincadeira. “Quando veem que o bebê chora muito, dorme muito, precisa trocar fralda, precisa mamar e não fala ainda, vem aquele choque”, diz. Não parece, assim, tão divertido, não é?


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Por mais que os pais expliquem que vai demorar um pouco para o bebê começar a engatinhar, falar e andar, as crianças não entendem esse tempo. A família conta que a criança está na barriga, que é pequena, vai crescer aos poucos, que no começo vai usar fralda e dormir no berço, mas que, em um ou dois anos, vai começar a falar e interagir com o mais velho. Mas quanto tempo demora um ou dois anos na cabeça de uma criança pequena? “A criança não tem essa noção de tempo que nós temos. Por isso, em viagens ou passeios de carro, repetem aquela famosa pergunta, um milhão de vezes: ‘Tá chegando?’”, exemplifica. 

Ciúme: mais uma emoção para a conta

Junto de toda essa expectativa que não foi atendida - pelo menos, não de imediato - vem outra sensação difícil de processar: o ciúme do irmão. “Agora, o tempo dos pais não é mais exclusivo, as visitas querem pegar o bebê no colo e repetem várias vezes que ele é fofo. A criança mais velha, que estava no centro das atenções, percebe que não é mais assim”, explica Cynthia. 

Segundo a psicóloga, uma reação normal para algumas crianças, diante desse cenário, é a regressão. O mais velho vê o bebê usando chupeta, fralda, dormindo no berço e quer voltar a fazer o mesmo. “O papel do adulto é acolher, mostrar para a criança que ela não precisa mais daquelas coisas, que existem fases, fazer arranjos para ter tempo exclusivo para essa criança mais velha”, orienta. 

Se o seu filho mais velho estiver se aproximando da hora do desfralde ou da transição do berço para a cama, o ideal, segundo a psicóloga, é adiantar o processo para bem antes da chegada do bebê ou adiar, para quando a criança já estiver mais adaptada ao nascimento do irmão.

Mas o mais importante de tudo é mostrar que seu filho é amado, querido, que tem amor suficiente para todo mundo e que ninguém nunca vai tomar o lugar dele no seu coração. 

Dicas espertas para lidar com a chegada do caçula

Um dos recursos que pode ajudar o filho mais velho a entender toda a ideia da passagem de tempo e que, daqui a alguns meses, o bebê estará maior e poderá brincar com ele, é usar fotos e vídeos. “Mostre que ele, o mais velho, também foi um bebê pequenino, como o irmão, que também cabia dentro da barriga, que também não sabia fazer nada, mamava, engatinhava, vivia de fraldas. Assim, ele consegue entender melhor que, por mais que leve um tempinho, vai acontecer. Ele sabe que o irmão vai chegar lá, porque aconteceu com ele também”, recomenda. 

Outro reforço é assistir a filmes e desenhos animados que toquem no tema, além, é claro, dos livros. “Existem vários livros que podem ajudar”, afirma Cynthia. Começar por Minúscula é uma ótima opção!

Além dele, separamos aqui outros títulos que podem ajudar seu filho a superar essa fase e a entender que logo, logo, o melhor amigo dele estará ali, prontinho para brincar e compartilhar a vida. 

Livros que ajudam na relação com o novo irmão

Zeca conhece Nina

Zeca conhece Nina

Zeca está feliz e tranquilo com seus pais, curtindo passeios e aventuras. Até que um ovo chega em sua casa. O que será que tem dentro dele? Então, Zeca conhece Nina, sua irmã mais nova. Primeiro, ele fica furioso por perder os passeios. Depois, vai experimentar emoções como ciúme, raiva, tristeza e, claro, amor. De Robert Starling, pela Brinque-Book.

Nós agora somos quatro

Nós agora somos quatro

Tudo muda na vida desta família com a chegada de um novo pequenininho. De repente, a casa fica cheia de barulho, ninguém tem mais hora para dormir e há confusão por todo canto. Quanta alegria e quanto amor um bebê pode trazer! De Lilli L’Arronge, pela Companhia das Letrinhas.

A irmã do Gildo

A irmã do Gildo

Certo dia, no café da manhã, Gildo olha a barriga da mãe e pensa: "Ela exagerou na comida!". Na verdade, havia ali um bebê que, de acordo com o elefante, demorou muito para chegar. Até que finalmente Laurinha vem e, com ela, uma série de mudanças acontecem. De Silvana Rando, pela Brinque-Book.

Eu também!

Eu também!

O livro conta a história de Tuca e Lipe. Tuca é um menino que adora brincar, comer pizza, passear... e o Lipe também! Afinal, eles são irmãos muito parecidos. Às vezes, até brigam, mas, quando a saudade bate, eles têm seus jeitinhos de demonstrar o que sentem um pelo outro. De Patricia Auerbach, com ilustrações de Isa Santos, pela Companhia das Letrinhas. 

O túnel

O túnel

Era uma vez dois irmãos que não se pareciam em nada. A irmã ficava dentro de casa, sozinha, lendo e sonhando. O irmão brincava lá fora com seus amigos, rindo e chutando, bagunçando e rolando. E os dois brigavam o tempo todo. Até que um dia encontraram o túnel, e tudo mudou. De Anthony Browne, pela Pequena Zahar. 

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