As aventuras de uma menina programadora

31/07/2019

 

Destemida, imaginativa e brincalhona, Ruby é uma menina que gosta de começar perguntas com "por que?". Ela é prática e guarda um segredo para não ter medo de experimentar coisas novas: lembra-se de que "problemões são apenas probleminhas acumulados" e que, às vezes, "o único jeito de aprender algo novo é cometer um monte de erros primeiro". Talvez ela não soubesse disso antes de iniciar uma brincadeira de caça ao tesouro proposta pelo seu pai, mas essas características fazem a diferença para quem quer se aventurar pelo mundo da programação. Bem como traçar planos, decodificar mensagens e perceber padrões de repetição.

Ela é protagonista do livro Olá, Ruby - Uma aventura pela programação, lançamento da Companhia das Letrinhas escrito por Linda Liukas. Na obra, as crianças (e por que não os adultos também?) descobrem noções básicas de programação e ainda se divertem com as experimentações dessa menina curiosa. "Este livro foi feito para pais e filhos curtirem juntos. Vocês podem terminar a história em uma única leitura, ou focar em um capítulo por vez. Cada capítulo contém uma série de exercícios divertidos que estimulam a criatividade (eles estão na segunda parte do livro). Não tenham pressa, façam e refaçam as atividades. É normal cometer erros e reexaminar um mesmo problema de diversos ângulos. Tudo isso faz parte do pensamento computacional", explica a autora finlandesa na introdução do livro.

No sentido de tornar a linguagem digital tão lúdica quanto as infinitas possibilidades que sugere um sistema numérico binário, Olá, Ruby faz analogias de fácil entendimento e desmistifica uma suposta complexidade intransponível dessa área: "Quando você escreve instruções passo a passo, está programando!", esclarece um quadro informativo na parte de atividades. Mas, afinal, qual a importância de apresentar conhecimentos de programação às crianças de hoje? Conversamos com César Martins, co-fundador da escola de programação para crianças Happy Code, e Leonardo Zambaldi, CEO da I Do Code, para contarem um pouco mais sobre esse assunto.

 

 

A respeito do que a programação pode acrescentar na vida de uma criança ou um adolescente, Leonardo chama atenção para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais. "Aprender a programar é importante pelo fato de desenvolver habilidades fundamentais para a época em que vivemos, como pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade", completa César. Além disso, o CEO da I Do Code coloca a programação como forma de motivar o interesse para outras áreas do conhecimento, como a matemática e a ciência. Nesse sentido, tratar desse tema na literatura infantil, assim como fez Linda, ajuda a criar uma cultura de compreensão da tecnologia como parte importante da vida das gerações atuais e a entender que a educação para o uso consciente dela é fundamental.

"Ao fazer uma analogia com a alfabetização, é como se as crianças, hoje, fossem capazes apenas de ler, mas não pudessem escrever. E quando elas aprendem a programar, passam a ter a capacidade de criar com a tecnologia. A tecnologia deixa de ser um fim, e passa a ser um meio", explica César. Essa ideia retoma o pensamento de uma das referências em tecnologia da informação, Stephanie Shirley, que declarou à BBC Brasilque a alfabetização digital como uma das habilidades imprescindíveis para o século XXI. 

Sobre essa questão, Leonardo ainda pontua que o aprendizado da programação também auxilia os jovens a entenderem que a tecnologia não deve ser usada apenas para o entretenimento; pelo ao contrário, sua abrangência permite que seja utilizada com objetivos ainda mais produtivos. Para ele, o que se vê atualmente – o uso massivo de tecnologia, muitas vezes, sem finalidade – não deve representar a programação como um conhecimento prejudicial. 

 

"O que precisamos fazer é justamente orientar os jovens a passarem por um período de educação tecnológica para que entendam como devem usar seu tempo", conclui. Projetando um cenário otimista, em que esse tipo de conteúdo seja transmitido na sala de aula, César comenta: "Ensinar programação nas escolas convencionais é possível e importante. Para isso, é necessária uma metodologia específica que faça com que o aluno desenvolva não só as habilidades tecnológicas, mas também as habilidades humanas necessárias para utilizar a tecnologia em benefício da sociedade".

Ambas as escolas especializadas concentram um público de alunos majoritariamente masculino, mas reconhecem a relevância de mudar isso. Incentivar as meninas a adentrar esse universo científico ajuda não somente a conferir maior confiança a elas, pelas habilidades importantes que estarão desenvolvendo, como também ajuda a própria ciência, que passa a contar com uma maior diversidade de perspectivas e, portanto, de ideias e soluções. Ruby, ainda bem, já começou a se aventurar por esse universo.

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