Hora do almoço também é hora de história

29/08/2019

 

Entre uma garfada e outra, no almoço ou no jantar, há um tempo para a leitura. Essa foi a ideia do grupo Ráscal, que, desde o início de 2018, disponibiliza carrinhos de livros infantis nos restaurantes da rede na cidade de São Paulo. As páginas dos exemplares ofertados, cheios das marcas dos leitores, indicam o quanto aquelas histórias são intensamente saboreadas pelas crianças e suas famílias durante (antes ou depois) as refeições – e também durante a espera por uma mesa. 

 

Crédito: Angelo dal Bó

 

Silvana, coordenadora de atendimento da unidade do Shopping Higienópolis, conta que os carrinhos proporcionam um tempo de leitura para as crianças que já têm esse hábito e também incentivam outras que ainda não sabem ler a se aventurarem pelo universo do livros. Lene, que há 20 anos recepciona os clientes também nessa unidade, completa que, em certas ocasiões, até mesmo os adultos ficam interessados pelo carrinho de livros (das crianças?).

Larissa, 22, é prova viva disso. Na espera de um lugar à mesa, logo puxou um livro, A árvore generosa, de Shel Silverstein. A cor vibrante da capa foi o que chamou a sua atenção para aquele título no meio de tantos outros. Os desenhos do autor americano, que não possuem intervenção de cor e marcam apenas o contorno das figuras, foram coloridos com lápis de cor por algum leitor anterior. Para Larissa, a iniciativa do restaurante ajuda a reforçar a ideia de que as narrativas podem "estar presente até em momentos inesperados, como em uma refeição”. 

Sua acompanhante, Monica, também elogia a ideia e comenta se tratar de uma forma de ajudar as crianças a terem paciência. E saber que a espera pode conter histórias incríveis e ser tão divertida quanto um livro de aventura. É um jeito de ensinar a esperar de modo mais imersivo, diferente de aprender tal virtude diante de um tablete, por exemplo. Sobre a aparência dos exemplares, alguns com os cantos das capas mais gastos devido ao gesto de folhear, coloca: "Legal que são usados".

 

 

Basta observar o carrinho por alguns momentos para perceber como as pessoas interagem com ele de diferentes formas. Uma menina, com cerca de 6 anos de idade, enquanto caminha em direção a sua mesa, que acaba de ser anunciada pelo painel de senhas, olha rapidamente para os livros e segue andando. Poucos instantes depois, volta e retira uma obra. De capa roxa, aparentemente grande e pesada para aquelas mãozinhas: feliz, ela carrega consigo o livro.

Uma outra garota, já adolescente, coloca alguns livros em cima do banco de espera e pede para sua prima mais nova escolher um deles. A criança, assim como Larissa, também escolhe A árvore generosa. Então, senta-se no colo da prima, que passa a ler a história para ela. Segundo Silvana e Lene, essas são cenas comuns no restaurante. A jovem, um pouco tímida, confessa gostar de ler e sempre tentar incentivar sua prima, que não é tão próxima de leitura.

Lorena, 10, Rafaela, 9, Bruno, 8, e Isabela, 8, estavam em torno de uma tela de celular quando foram avisados sobre a “biblioteca sobre rodas”. Apesar de já conhecerem o restaurante, não sabiam do carrinho. Sobre a descoberta, Lorena comenta: "Achei legal, porque, às vezes, a gente fica sem nada para fazer". Todos eles identificam, nessa estante móvel, livros que têm em casa ou já lidos na escola. E falam de sua atração pela leitura: "Gosto de ler quando eu não estou conseguindo dormir", afirma Bruno. "[Os livros] contam várias histórias e você consegue descobrir muitas coisa", acrescenta a menina Isabela. Já Rafaela, apaixonada por suspense, “que vai estimulando você a ler o livro”, retoma outros tempos para explicar sua relação com os livros: “Leio com meus pais desde um ano". 

O carrinho, como todos sabem, é só um meio de transporte e, no caso do Ráscal, serve para transportar livros (ou crianças por viagens literárias). O prazer e interesse pela leitura, no entanto, vem de berço. Constrói-se pouco a pouco até o dia em que as crianças se tornam devoradoras de páginas, famintas por letrinhas.

 

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